Paris inventado



- Se eu fosse inventor, seria inventor de cidades! - dizia o João com grande entusiasmo - Um grande inventor de cidades. Desenharia Veneza de manhã, Paris à tarde e Londres à noite!
- E como pintarias Veneza, meu pardalucho? - perguntava a avó encantada com a determinação espantosa do seu neto.
- Com tintas, avó! E com alma, como todos os pintores famosos.
- Que artista! E Paris?
- Em Paris desenhava um «A grande» de ferro e um rio de água muito azul, com barquinhos pequeninos a nadarem à sua volta...
- Mas os barquinhos e a água muito azul são de Veneza, João!
- Oh avó, eu não te disse que ia ser inventor? Estou a inventar... Paris não se chamava Paris, mas sim Sirap, Veneza seria Azenev e Londres seria Serdnol!
- Que nomes tão estranhos, João!
- Não são nada! São os nomes das cidades ao contrário!
- Ah, estou a ver... muito original, sim senhor!
- Eu disse-te, avó, eu ía ser um grande inventor de cidades.
- Oh João... e países? Não queres inventar países também?
- Não, avó. Os países são muito difíceis. Têm  muitas cidades e depois eu ficava muito cansado.
A avó, deliciada com a autonomia do seu João, deixava-se levar pelas histórias que nasciam naqueles diálogos extraordinários.
- Tens razão, João! É muito importante descansar e ter tempo para dedicar à família e aos amigos!
- Não te preocupes, avó! Eu não vou fazer mais do que uma cidade por semana... e à tarde, quando sair do meu trabalho, venho visitar-te e contar-te que cidade é que estarei a inventar.
A avó deixou-se em silêncio, a sorrir e a sentir o seu João a crescer, a crescer até ser mais alto do que ela. O pequeno agarra numa folha branca, num pincel, nas aguarelas e no copinho com água e afirma com uma espontaneidade maravilhosa:


- Avó, avó, já sei! Hoje, vou inventar uma cidade inteira e vai ser a mais bonita do mundo. Vou chamar-lhe «A Cidade das Avós»!

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