Insónia



Ouço um silêncio que me assombra nesta noite. O tiquetaquear do relógio faz-me tremer e leva o meu estômago a dar sinais de ansiedade. O crepitar de objetos perdidos no quarto, as asas de uma mosca, o deslizar do carvão no papel, a minha voz baixa e trémula que se deixa sair cansada.

Ouço-o com mais e pormenorizada atenção: um segundo relógio – o relógio de pulso – que está nas gavetas ao fundo do quarto, um carro ou outro que passam na estrada longínqua e um nada, um zumbido fino e oco que me atravessa a cabeça da direita à esquerda, de cima a baixo, sem deixar rasto na minha imaginação…

Ouço os sonhos dos sonhadores, os pensamentos dos pensadores… Ouço as estrelas a brilharem, o sol a explodir, a lua a cantar e o universo a expandir. Ouço os buracos negro
s a sugarem a luz e o barulho inexistente do cosmos, as galáxias jamais conhecidas, outros buracos negros, mais luzes, mais estrelas, luas, sóis e planetas. Tudo! E, ao mesmo tempo, Nada!

Ouço-me a mim, o som mais difícil de ouvir, mais difícil de chegar, de encontrar. De entender.

Fiz-me gritar. Sem som.

E sem som, ao gritar, consegui ouvir-me!

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