Fizeram-me ter pressa de morrer, avó! E para isso não sei se há perdão.
Mas tu fizeste-me acreditar que nos teus olhos cabia o sorriso do mundo. Fizeste-me acreditar que a lua pertence ao céu e que as estrelas pertencem à noite. Ajudaste-me a perceber que há sempre um Amanhã, que depois de um fim de um mundo vem sempre o começo de um outro. Fizeste-me acreditar que o tempo voa mas não tem asas. E eu acreditei, avó! Acreditei e pedi ao tempo que me ensinasse a voar como ele! Mas o pior de tudo foi eu acreditar que tu eras eterna. Eterna aqui. Eterna a falar comigo e eterna a contar histórias! Eu dizia que se fosses embora, a minha vontade de viver ia contigo. E foi! Quando me pediram para te dar aquilo que eu recusei com as lágrimas que ainda me restavam, perdi a vontade de viver! Era o Adeus! E eu não queria oferecer-te essa palavra tão feia, tão má! E não ofereci! Jamais diria algo assim a alguém tão importante para mim! Disse-te então, no silêncio daquele desespero mudo «Até Amanhã, Avó, nunca esqueças a pessoa magnífica que és!».
Estou tão diferente. Sinto-me diferente daquilo que era, quando tu eras tu. Não sei se te lembras… Gostava que me visses agora, avó! Gostava que olhasses para mim, que visses os meus olhos, que admirasses o meu cabelo, como todas as avós fazem, e que me falasses (não me importa muito o que dirias, só o facto de ouvir a tua voz deixar-me-ia feliz.).
Dói-me o peito. Seria uma pessoa muito melhor se ainda aqui estivesses. Aqui. Aqui!
Eu queria chorar livremente, gritar para os pulmões do mundo a minha dor e chamar-te. Chamar-te Avó, a grande mulher da minha vida. Eu sei que me ajudas. Sou feliz porque me ajudaste a sê-lo! Sei, hoje, que me ouviste quando te pedi para me ouvires, quando não conseguia confiar em mais ninguém. E tu ouviste. E eu não sabia se me estavas a ouvir.
Sabes a falta que fazes. Sabes que, naqueles dias, tenho uma vontade enorme de te visitar aí, onde estás, e já não voltar. Mas depois penso… e tu sabes que, para além de ser cobarde, tenho medo!
(…)
Queria tanto falar contigo. Mas não consigo ouvir a tua voz longinquamente perto. Não consigo ver já os teus olhos escuros que outrora foram claros. Não consigo imaginar o teu corpo sem ti, sem o teu eu. Sei que foi a partir daquele dia que fiquei com um enorme horror à palavra que me pediram para te dar e que eu recusei com as lágrimas que ainda me restavam! Era o Adeus! E eu não queria oferecer-te essa palavra tão feia, tão má! E não ofereci! Jamais diria algo assim a alguém tão importante para mim!
Sabes, avó, nunca to disse (talvez até porque na altura não me apercebia claramente)… mas tu tinhas (e ainda deves ter) uma fé inabalável. Lembro-me do último dia em que te vi. Foi num dia cinzento, cinzento. Chovia e estava frio! Depois desse, já só em sonhos e pesadelos! Sonhos em que estavas connosco novamente a sermos felizes. Pesadelos em que revivia tudo novamente e em que acordava a chorar, numa aflição descontrolada, com medo de tudo, sem saber de nada!
𝙏𝙧𝙞𝙜𝙜𝙚𝙧 𝙒𝙖𝙧𝙣𝙞𝙣𝙜𝙨
- Morte, Luto, Suicídio, Violência.4,5

Esta é uma obra literária cativante que aborda temas complexos e profundos como a solidão, o luto, a identidade, a violência e a empatia. A narrativa desenrola-se em torno da história de uma família que vive na Islândia e é contada através dos olhos de uma menina chamada Halla cuja irmã gémea, Sigridur, " foi plantada", eufemismo usado vezes sem conta para retratar esta morte prematura.
A escrita de Valter surpreendeu-me tanto! Ainda só tinha lido um livro dele (de poesia). Aqui, há uma prosa que é poética e sensível que é capaz de evocar imagens e sensações vívidas na nossa mente. A história em si é uma reflexão sobre o ser humano e como a nossa humanidade pode ser comprometida pela dor e pela perda.
O autor descreve a paisagem e a vida nos fiordes islandeses, criando uma atmosfera realista e envolvente. As personagens são retratadas de forma complexa e multifacetada, o que faz com que o leitor se prenda na narrativa facilmente.
O que mais me entristeceu na leitura foi ver a incapacidade desta mãe conseguir fazer o luto e a sua frieza e maldade para com a filha que sobreviveu. A narrativa está na primeira pessoa e é Halla que nos conta o que vai sucedendo, o veneno que ouve da própria mãe e o que esta lhe pede para fazer constantemente. Duro de ler. 12 anos. A menina só tem 12 anos. E tem de crescer a fazer-se forte, por muito que lhe custe.
𝚁𝚘𝚖𝚊𝚗𝚌𝚎
𝟸𝟺𝟾 𝚙á𝚐𝚒𝚗𝚊𝚜
𝙿𝚘𝚛𝚝𝚘 𝙴𝚍𝚒𝚝𝚘𝚛𝚊, 𝚂𝚎𝚝𝚎𝚖𝚋𝚛𝚘 𝚍𝚎 𝟸𝟶𝟷𝟹
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4⭐️
Luanda, Angola.
1975, véspera da Independência.
Ludovica fica para trás aquando do regresso da irmã e cunhado para Portugal. Ficariam de vir buscá-la mais tarde, mas isso nunca aconteceu e só percebemos a razão no fim do livro.
Será ela a nossa personagem central, cuja ligação às restantes pessoas estará presente ao longo de todo o livro.
Como é que, durante 30 anos, alguém poderia ter sobrevivido apenas num apartamento fechado? Escondida, ali ficou durante décadas, isolada de Angola e do mundo, sem saber o que se passava lá fora, atrás da parede que ela própria ergueu para que a não encontrassem.
Esta senhora está cheia de cicatrizes internas e, por isso, invisíveis aos olhos de quem a olha. Era preciso ver-lhe a alma para as decifrar. São cicatrizes de dentro, de história. Aquelas que mais custam a sarar. E passou anos e anos, sozinha, a engolir dores todos os dias e todas as noites.
Finalmente, depois de alguns acontecimentos inesperados, Ludovica encontra pessoas importantes e marcantes que a vão ajudar sem que ela se aperceba da imensidão do bem que lhe estão a fazer, inconscientemente.
Vão ser essas relações que a vão fazer esquecer, questionar e arrepender-se da culpa e da vergonha que sentiu injustamente demasiado tempo. Vai perceber que perdeu a vida, a juventude, a idade adulta não só por causa de uma guerra numa terra, mas também devido à guerra interna que a atormentava tanto ou mais que os tiros que ouvia na rua. Os sons bélicos tiveram um fim sem que ela tomasse consciência disso. Para ela, o medo estava sempre lá. A esperança nunca a visitou. E só na sua ancianidade o entendeu de verdade.
Agualusa surpreende com a sua mestria de contador de histórias. Há já muito tempo que não lia nada dele.
Romance
248 Páginas
Leya, Maio de 2012
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the ginger bookworm
Amante das letras, da leitura e da escrita e eterna aprendiz de viajante.
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