The Ginger Bookworm


Em dias de Saudade, percebeu que o que sentia agora já não era amor! Percebeu que o amor morrera e que o que reinava agora em si eram apenas memórias desvanecidas de um tempo que não tinha regresso!
Em dias de Saudade, ela desesperava, respirava fundo e voltava a si. Depois, fugia outra vez do calor de corações!
Em dias de Saudade, desistiu de relembrar o amor e de amar. Não conseguia fazê-lo com mais ninguém. Estava tão presa ao que já não existia que se tornou incapaz de ser feliz com outro alguém!



Eu morria e a minha neta lia as palavras que eu havia escrito em vida.
Eu morria e a minha neta contava-me as minhas histórias.
E ela não sabia a felicidade que me proporcionava naqueles momentos tão agoniantes. Eu estava a morrer e estava a morrer feliz! A minha neta estava a ler-me e estava a ler-me feliz! 
Eu tinha uma vontade inexplicável de lhe agradecer e dizer o quanto era bom morrer a ouvir poesia, mas as minhas forças não o permitiam. Não sei que expressão tinha em meu semblante... se caracterizava o meu estado de espírito maravilhado ou se transparecia as dores do meu corpo já velho e gasto. 
Não conseguia falar, nem mexer as mãos para agarrar as dela. Queria tanto oferecer-lhe um último sorriso e espantar as lágrimas que lhe choviam dos olhos, numa tempestade incontrolável e num desespero mudo! A sua voz tremia ao som da melodia de prosa e poesia molhadas de água pura. As suas mãos vacilavam, jovens, incertas e cheias de dúvidas para com a vida. O seu rosto, tão belo como o da sua mãe, brilhava num tom natural de quem tem coração de ouro! 
Os meus olhos seguiam-na, incansáveis e já nostálgicos, com medo de a perder! 
Percebi que eu não a estava a perder... ela é que me perdia a mim!


A capacidade para ver o mundo com outros olhos está a esvaecer por entre as «brumas de uma memória» que parece apagada também. Há falta de vontade de continuar, por algum motivo. Há, em casos mais graves, falta de vontade de começar. E é isto que me assusta! 
Como pode um povo sobreviver sem cultura? 
Como pode um povo viver sem valorizar aquele que dá conteúdo, em matéria e em sonho, ao Amanhã? 

Eu acho que NÃO pode.

É verdade que é o professor que ensina o aluno a pensar e, mais importante, a valorizar o saber pensar!

Mas também é verdade que o professor, sozinho, sem auxílio da vontade do aluno e com acréscimo das desvantagens diárias desgastantes que o rodeiam atualmente não consegue fazer o seu trabalho, ou, se consegue, com menor rendimento do que o dito «normal».

Precisamos de professores que nos incentivem, mas também precisamos de alunos que dêem aos professores vontade de continuar.

Sabemos nós que os professores são heróis, não deuses e, por isso, capazes de grandes feitos, não de milagres.

Pergunto então porque é que esta profissão está a ser cada vez mais desprezada, se é com ela que se fazem mundos...


- Se eu fosse inventor, seria inventor de cidades! - dizia o João com grande entusiasmo - Um grande inventor de cidades. Desenharia Veneza de manhã, Paris à tarde e Londres à noite!
- E como pintarias Veneza, meu pardalucho? - perguntava a avó encantada com a determinação espantosa do seu neto.
- Com tintas, avó! E com alma, como todos os pintores famosos.
- Que artista! E Paris?
- Em Paris desenhava um «A grande» de ferro e um rio de água muito azul, com barquinhos pequeninos a nadarem à sua volta...
- Mas os barquinhos e a água muito azul são de Veneza, João!
- Oh avó, eu não te disse que ia ser inventor? Estou a inventar... Paris não se chamava Paris, mas sim Sirap, Veneza seria Azenev e Londres seria Serdnol!
- Que nomes tão estranhos, João!
- Não são nada! São os nomes das cidades ao contrário!
- Ah, estou a ver... muito original, sim senhor!
- Eu disse-te, avó, eu ía ser um grande inventor de cidades.
- Oh João... e países? Não queres inventar países também?
- Não, avó. Os países são muito difíceis. Têm  muitas cidades e depois eu ficava muito cansado.
A avó, deliciada com a autonomia do seu João, deixava-se levar pelas histórias que nasciam naqueles diálogos extraordinários.
- Tens razão, João! É muito importante descansar e ter tempo para dedicar à família e aos amigos!
- Não te preocupes, avó! Eu não vou fazer mais do que uma cidade por semana... e à tarde, quando sair do meu trabalho, venho visitar-te e contar-te que cidade é que estarei a inventar.
A avó deixou-se em silêncio, a sorrir e a sentir o seu João a crescer, a crescer até ser mais alto do que ela. O pequeno agarra numa folha branca, num pincel, nas aguarelas e no copinho com água e afirma com uma espontaneidade maravilhosa:


- Avó, avó, já sei! Hoje, vou inventar uma cidade inteira e vai ser a mais bonita do mundo. Vou chamar-lhe «A Cidade das Avós»!


Ouço um silêncio que me assombra nesta noite. O tiquetaquear do relógio faz-me tremer e leva o meu estômago a dar sinais de ansiedade. O crepitar de objetos perdidos no quarto, as asas de uma mosca, o deslizar do carvão no papel, a minha voz baixa e trémula que se deixa sair cansada.

Ouço-o com mais e pormenorizada atenção: um segundo relógio – o relógio de pulso – que está nas gavetas ao fundo do quarto, um carro ou outro que passam na estrada longínqua e um nada, um zumbido fino e oco que me atravessa a cabeça da direita à esquerda, de cima a baixo, sem deixar rasto na minha imaginação…

Ouço os sonhos dos sonhadores, os pensamentos dos pensadores… Ouço as estrelas a brilharem, o sol a explodir, a lua a cantar e o universo a expandir. Ouço os buracos negro
s a sugarem a luz e o barulho inexistente do cosmos, as galáxias jamais conhecidas, outros buracos negros, mais luzes, mais estrelas, luas, sóis e planetas. Tudo! E, ao mesmo tempo, Nada!

Ouço-me a mim, o som mais difícil de ouvir, mais difícil de chegar, de encontrar. De entender.

Fiz-me gritar. Sem som.

E sem som, ao gritar, consegui ouvir-me!


Digo-te adeus agora
Porque tenho de crescer
E chegou a hora.

Tenho de saber viver
Com os adeus porque
Eles fazem parte deste
Sopro alheio que respiramos.

Já te prendi comigo
Demasiado tempo!
Não percebi que tinhas
De ir. De partir.

Estavas comigo o tempo
Todo e não me dizias que era
Hora. Hora de esperares por
Mim lá onde tens de esperar.

Lamento ter demorado
Tanto tempo para te
Libertar deste peso que é
A minha vida para ti!
Assim, de ti me despeço,
De ti me separo de vez!
Adeus!
Adeus!


Querido...
Primeiro de tudo,confia em ti!
Confia em ti porque precisas disso e, se não confiares em ti, como cativas a confiança do outro?
Confia porque te tornas VULNERÁVEL! Pode ser bom. Pode ser mau. Mas tens de acreditar que o mundo foi feito para nós e é um desperdício viver só! Fomos feitos para acreditar, para ter fé. E só assim poderás afastar a solidão triste que acompanha a desconfiança!
Confia porque terás motivos para sorrir e para fazer sorrir.
Confia porque será um gesto muito teu, muito importante, para fazeres crescer um jardim no teu coração.
Confia porque aprenderás a voar sem asas.
Confia porque aprenderás a ser Humano.
Confia porque quem confia é mais feliz.
E se correr mal (porque pode correr), não feches os olhos... Acontece o que tem de acontecer por algum motivo. Não julgues o resto do mundo porque UM te fez acreditar que não valia a pena!
Eu sei que quando te tiram o mundo, ficas sem chão, sem onde pousar os pés.
Perguntas ao Inverno por que é ele tão frio em ti! E ele, de tão gélido que é, não te responde e ainda te pisa os dedos já feridos.
Não consegues perceber a razão de todo o abismo que se instala repentinamente. O resto não importa e só queres deixar de viver. Com o mundo em cima de ti, vês-te sozinho e não te consegues levantar.
Pensavas que, se não fosse para amar, nada valeria a pena. Hoje, fizeram-te acreditar que o que não vale a pena é amar. E é tão triste pensar assim! É tão triste estar triste!
O que eu dava para te dizer que estou aqui para ti! Que te amo, independentemente do que possa acontecer amanhã, quando virmos o sol.
Disseram-te para não te agarrares tanto às pessoas. Tentaste, mas não conseguiste! É inevitável, eu sei! Para onde quer que vás, terás necessidade de te prender a alguém. De agarrares alguém com a tua vida. É humano precisares de um pilar. De um alicerce que te sustente os pés quando perdes a força e cais.
De tanto andares, parece-te que já não é fiável ter alicerces, porque também eles podem cair ou, no pior dos casos, serem eles mesmos a derrubarem-te, por mais inacreditável que te parecesse até então! Aí, perdes o poder de confiar. Quando perdes isto, perdes o mundo. Quando te tiram isto, tiram-te o mundo. Mas as coisas acontecem e todos erramos!
Por isso te peço, meu doce, que não deixes de acreditar. Não deixes de acreditar que faz bem acreditar. Nunca!
Quero que sejas feliz na tua linda e longa vida. Quero que um dia digas que valeu a pena e que acredites que amar é de facto o que te faz continuar por aqui! E que, se não fosse para amar, tudo seria em vão!
Pois agora digo-te eu (e isto vale o que vale) que, por mais impensável, por mais impossível que possa parecer, há sempre alguém em que mereces confiar.
Hoje, não te escrevo palavras bonitas nem organizadas. Mas escrevo-te com esperança de que acredites!
E acredita, meu amor, que a vida é tão mais bonita quando confias! A vida é tão mais bonita quando tens alguém ao teu lado!


A vida não é como uma peça de teatro! Não há ensaios e não podemos «repetir a cena» para ver se é desta que corre bem. Corre mal e ponto final. Para quê tentar dar a volta? Para fazer da realidade um eufemismo tão grande ao ponto de nos fazer acreditar na beleza dos sonhos, no orgulho de aprender com os erros, na esperança estupidamente conseguida por um futuro melhor… ? Para quê viver se nos proíbem de sonhar? Para quê lutar se antes da batalha nos tiram as armas e somos declarados como derrotados miseráveis? Para quê tudo se acabamos nada? Não somos mais que um produto matemático com barro à mistura.

O único motivo pelo qual eles se mantinham na sua função esvaeceu-se. Agora, posso afirmar convictamente que a minha vida acabou. Hoje foi o meu último dia. O fim do meu mundo. Mas, para aqueles que viverão, haverá amanhã. E para mim, esse futuro – o amanhã – já não existe.

Manhãs desoladas. Tardes contagiadas pelas manhãs. Dias assim.
Decidi que, para estar como estava, mais valia fugir de mim, sair da minha cabeça por um tempo razoável e deixar-me. Deixar o meu ser. E consegui!
Quando eu morri, vi os meus olhos a perderem o brilho que já não tinham. Ouvi a minha voz que já não falava. Respirei o suspiro inexistente e ouvi também o meu coração que já não batia. E, por mais estúpido que alguém possa ser, o que tinha acontecido era óbvio. Eu tinha morrido. Sem vida, sem nada – era eu; e aquilo era a Morte! Mas eu continuava a pensar e a ver-me. Estava deitada no chão da casa-de-banho. Era eu! No chão duro e frio. No gelo do desamparo e na dureza da vida morta. (…)
Afinal, quantos de nós sabem o que é viver?

Rasguei em mil e três pedacinhos o que tinha escrito até então. Elaborei um puzzle com aquelas peças cheias de palavras de todos os tipos. Sentia-me tão presa a todos aqueles acontecimentos…  apercebi-me disso pela melancolia que me perseguia mais intensamente do que a minha própria sombra.

Aproveitei um dia em que a lareira estava acesa. Agarrei em todo o meu passado escrito em prosa e lancei-o às chamas… que sensação estranha! Boa e má. Aquelas eram as minhas palavras! Senti o fogo ardente a queimar parte de mim… mais tarde percebi que o que de mim foi queimado não prestava. Parasitas e manchas negras foram destruídos pela quente fonte de luz.

Senti, pela primeira vez, um desconforto reconfortante! Largara ali, como quem larga um monstro nas trevas, o eu que tinha sido no passado e o que tinha sonhado, sentido e vivido. Destruí-me para me poder conseguir (re)construir.

Às vezes, só precisamos de um assunto para escrever... Outras de um abraço e outras de alguém que nos parta o coração. Já não sei o que foi feito de ti. Aquele teu sorriso constante que iluminava a tua presença está a desaparecer, aos poucos, sem mesmo tu te aperceberes. Essa alegria de viver que antes perseguias e distribuías por quem estava à tua volta está a apagar-se e a deixar-se morrer para dar lugar a um estado quase apático, de ti invulgar, diria eu quase impossível há meses atrás. Tornaste no passado a tua presença de tal maneira inconfundível que esta quase repentina morte interior te deixou cada vez mais distante, mais triste, mais só! E nós, sem sabermos o que fazer para te trazer de volta. Nós, sem sabermos o que/quem te levou o sorriso! Quando é que te perdeste? Quando é que abandonaste esse teu coração rosado, por aí, ao vento? Volta, por favor! Volta! Pinto o meu coração de ti e o teu de mim para tentar trazer-te de volta. Talvez assim te consiga devolver toda a cor que me deste! Talvez assim relembres a cor que tinhas e todas as outras que criaste para nós!


E é a amar assim que me enterro na perfeição da felicidade. Sem ti eu não seria mais do que um daqueles corpos que vagueiam pela sombra dos outros e fazem do tempo um passatempo ridículo e inútil! Seria alguém sem uma pessoa dentro desse alguém! É a amar assim que consigo viver cada dia como vivo, sorrindo para o dia e para a noite, guardando o sol no meu bolso e acolhendo a chuva no meu regaço. 
Vim, sozinha, só contigo no mítico segredo do coração humano. Só contigo!
Estou aqui, hoje, novamente só. E tu, apesar de ausente, roubas-me a memória!
É a amar assim que pinto e escrevo a minha pessoa e a minha caminhada. É assim que faço de mim quem sou. Não és tu que me moldas. Não sou barro! Mas é a visão que me dás de ti que me faz amar como amo. 
Há voar e voar... Há voar e amar. 
Ensinaste-me a voar, quando as minhas asas ainda não tinham penas e quando a vida para mim era inquestionável. Aperfeiçoaste as inúmeras falhas do meu vôo, cheia de paciência abençoada. Falhaste! Foste o meu molde, mas falhaste! Mas descansa, porque todos falham! Falhaste ao mostrar que eu era capaz de tudo, se acreditasse! E era mentira. Eu não sou capaz de tudo, muito menos de acreditar. Acreditar que o impossível e o impensável podem acontecer é absurdo. Falhei. Falhei numa proporção infinitamente maior que tu! Tu não me devias ter feito acreditar em sonhos e eu não devia ter acreditado na sua existência. Ambas falhámos a acreditar com amor e já não há nada a fazer! O passado está passado e o futuro está a nascer neste preciso momento. E agora sim, ACREDITO que sou eu que o faço, apesar de tudo o que já aconteceu! Aprendemos que acreditar com amor não é correcto. Há que acreditar no mundo do possível com a nossa maior vontade de o concretizar!



Prefiro escrever à noite. Quando todos dormem. Quando o mundo desmaia.
De madrugada, as palavras fluem melhor. Talvez por ser quando me misturo com o sono do mundo, me aglutino com os sonhos dos sonhadores e me deixo navegar pelo rio desconhecido.
...
Amanheço extasiada com o búzio branco e puro que está na minha escrivaninha. Foi uma noite longa e infinita. Não me lembro de nada e sinto como se tivesse vivido tudo. Nevei estrelas e chovi alegrias. Sei que aconteci. Sei que fui eu. Fui eu. Nesta noite!


Estamos a preparar-nos para ir a mais uma actuação da Tuna!
Há entusiasmo escondido no hábito! São tantas as vezes que se vêem estudantes a cantar... mas não deixa de ter o seu encanto! Jamais! É um momento sempre tão cativante, tão cheio de alegria! Digo convicta que é um momento realmente vivo. Um momento de vida! Para nunca esquecer...
Sair de casa e deixar tudo lá! Levar o corpo e a alma para ouvir aquelas canções aquecedoras de corações estudantes! Levar o nosso sorriso para espalhar a nossa essência e a nossa voz para pintar a música.
No Auditório da Faculdade, vozes imensas cruzam entre si, formando um emaranhado incompreensível. Aquele ruído de fundo que nos leva por momentos a reflectir sobre tudo. Tudo, tudo! A ansiedade criada pela espera daqueles momentos que nos deixam realmente felizes chega à nossa pessoa! E ali ficamos, a aguardar pelo vento de melodia eterna.
(2014)


Noite escura. Sem luz. Estava frio seco e vento cortante e o pobre homem vagueava, claudicando como um moribundo no fim do tempo de vida. Agasalhado com roupas que não eram suas, tremia os dentes fracos e esfregava ambas as mãos nos braços (como se se abraçasse a si mesmo) com uma velocidade estonteante. A sua respiração era inconstante e acompanhada de um ruído desagradável da tosse causada pelo gelo que inspirava. Os seus cabelos, secos e maltratados, lutavam entre si. Os seus olhos mendigos, perdidos, já sem brilho e sem cor, procuravam na escuridão um fio de luz transparente. Os lábios gretados daquela boca, quase em sangue, tinham uma história de quase meio século para contar. Mas ninguém o ouvia. Ninguém excepto ele e as estrelas mais próximas. A Lua, essa, tinha virado as costas à Terra.
Deitou-se em cima de qualquer coisa imperceptível e desejou morrer. Mas nem todos os desejos se realizam...
Aguentou um pouco mais e adormeceu.
Manhã incandescente, cheia de luz branca e clara que magoa os olhos desprevenidos que acordam serenamente. A escuridão abandonou-o por fim. No entanto, o frio veio para ficar. Para ele, não havia nada mais desagradável do que sentir a sensibilidade a desaparecer. Até a fome se aguentava melhor - aquelas dores de estômago insuportáveis que, mesmo depois de comer, continuam a torturar o ser enfermo, parecendo não haver fim.
Poisou as mão sujas no chão duro e real para se apoiar e empurrou o solo, na tentativa de que algo inesperado acontecesse. «O quê?» perguntava ele, sem nada e com tudo no pensamento, vezes sem conta, com fé de que alguma resposta pudesse surgir, por obra divina do Espírito Santo ou não, por magia inexistente e imaginária dos astros ou ainda pela sua própria força, já fraca de tanto esforço!
Levantou-se e esperou pelo que esperava nos últimos dias... alguma coisa que não fosse nada e que fosse coisa suficiente e não em demasia. Vá-se lá perceber!


Querida, a minha alma imortal morreu na noite passada. Hoje, de madrugada, enterrei-a!
Em tempos muito antigos, dos quais não tens memória porque ainda não existias, eu era como tu - tinha fome do passado e sede do futuro; era mãe dos meus medos e filha dos meus sonhos. Nasci naquela aldeia de pedra e cresci com as palavras, a poesia...
Tu gostavas das minhas histórias e pedias sempre mais. Ah! Como é bom ser avó!
Hoje, os sinos da igreja estalam por minha causa.
Voei por entre as lusas brumas de um sonho transmontano para te ver. Estás a chorar!
De onde vieste, tristeza, que vejo nos olhos da minha neta?
Sinto os teus pensamentos tão pesados! As lágrimas de hoje são por mim derramadas? Lembra-te que pior do que morrer alguém, é morrer o amor por alguém!
Sei que, depois destas negras nuvens chorarem, a tua eterna e verdadeira felicidade encontrar-te-á. Consigo ver a família que criarás e o sorriso que nascerá em ti sem te aperceberes.
E eu, de te ver feliz, sorri!


Eu quero ter-te comigo!
Só comigo.
Sou egoísta com o mundo porque te quero só comigo.
Mas que hei-de eu fazer ao meu coração?
Mandá-lo embora para seres livre?
Ele agarra-te com tanta força que não consegues voar.
Desculpa, meu amor, por te querer tanto comigo!
Desculpa, meu amor, por não conseguir deixar-te voar!
Tens de me ajudar a fazê-lo. Amo-te e só te quero ver feliz! E se és feliz a voar, ensina-me a ajudar-te a abrir as asas!



Hoje foi como se estivesse estado dentro de uma bolha. Estava completamente desligada do mundo. Quando dava por mim estava surda para o exterior. Só ouvia o silêncio que não havia.  Olhava para o nada e pensava em algo. Algo suficientemente potente para me arrastar para o estado em que estava. Depois do tanto que reflecti, senti uma espécie de paz que me rodeava, como uma bolha... só havia eu. Só havia a minha caneta. Só havia a minha borracha e o meu lápis. Só havia o meu estojo. Só havia os meus livros, os meus cadernos. Só havia a minha mesa. A turma estava lá. Mas não estava. A professora falava, dava matéria. Mas não falava, não dava matéria.
Era como se vivesse sem viver.
Observava tudo detalhadamente sem prestar a mínima atenção à audição. Depois, a certa altura, a visão começou a falhar-me. Via tudo a esvaecer-se, como se tudo se quisesse despedir de mim ou como se o mundo me estivesse a dizer adeus. Não sabia o que se passava. Era tudo tão estranho, tão sem sentido. Mas nem isso me preocupava. Pensei que estava a deixar de viver. Pensei que estava a morrer. Nem isso me preocupava. Deixei de pensar e fiquei apenas ali, a estar com o corpo, a fingir que o corpo é que vive. Não me preocupava.
Há dias em que apetece desaparecer, fugir de tudo e acabar com o que há para acabar.
Há dias em que simplesmente se deixa tudo ser como é, alheios ao que existe e ao que não existe, sem querer saber.
Há dias em que se gasta o tempo como se gasta aquilo que a gente não precisa na vida.
E há dias...


Já não tenho chuva dentro de mim, nem nuvens no meu céu...
Já não existe vento nas gaiolas do meu peito, nem brisa no silêncio dos meus olhos.
Entre a noite que é cega e a madrugada que é surda, tento agarrar palavras para o dia.
Entre a lua pálida e morta e as estrelas esmorecidas no céu, tento guardar alguma poeira galáctica que me ajude a voar durante a escuridão do sono.
Já não há vida para além da temporalidade do papel. Mas eu continuo aqui. A existir.
Faltam-me as pérolas do mar para poder pensar; faltam-me as borboletas de aguarela para conseguir respirar. Falta-me o tempo... falta-me a vida!
E lá fora, o senhor do café continua igual, a senhora da papelaria também, o chão da calçada mais gasto por passos impensáveis, as árvores das ruas mais sábias e as coisas esquecidas ainda mais esquecidas. As rosas dos jardins vivos da vila choram ao sol e imploram por sangue de vida, seiva vermelha que lhes corre nas pétalas escarlate que se desenrolam do botão cheio de pó do paraíso.


O jornal diário continua a ser renovado nas mesas do café do senhor Zé; as revistas do quiosque da dona Madalena seguem o mesmo caminho; as violetas do canteiro da tia Ana fazem-na olhar para trás, para o que passou e que já não volta e impedem-na de olhar para o futuro, para o que lá vem ou há de vir.


Às vezes, um «Eu estou aqui!» faz toda a diferença... 
Às vezes, um «Eu estou aqui!» é toda aquela força que precisamos de ouvir e de sentir. 
É muito importante, não só no contexto que foi discutido numa aula - Doenças Oncológicas - mas também noutros conflitos que há em todas as nossas vidas, saber e sentir que podemos falar com alguém sem tabus sobre aquilo que nos atormenta.
Faz parte do ser humano partilhar as alegrias e construir a felicidade, mas sobretudo contar com alguém, não para nos lamentarmos de tudo e mais alguma coisa, mas para dividir aquele sofrimento que às vezes nos rói por dentro, aos poucos, quase sem darmos conta, e que mais tarde rebenta numa tempestade incontrolável de lágrimas, sabe-se lá onde!
É esse «Eu estou aqui!» (que muitas vezes não existe, ora por vergonha, ora por medo ou até mesmo por se achar que não é assim tão importante) que é o «gatilho» para um muito mais fácil processo, chamemos-lhe assim, de depósito de confiança em alguém! Porque muitas vezes calamos aquele grito preso na garganta pelo excesso de lucidez, pela consciência de que se começarmos a falar, vamos acabar a chorar, ou por aquela falta de coragem de chorar que muitos temos para aparentar a ausência de fragilidade, quando na verdade é ela que está mais presente! Escrevi uma vez e volto a escrever isto, porque acho que faz todo o sentido:
Frágeis somos porque nos derretemos em mágoas, tantas vezes desnecessárias, e engolimos de volta a água turbulenta que tenta sair pelos olhos.
Frágeis somos porque nos mentimos e desencantamos, quando não queremos ver, nem aceitar a verdade.
Frágeis somos porque tentamos enganar a vida e a morte, sem saber que são elas que nos enganam.
Frágeis somos porque caímos, vezes tantas, em calçadas cinzentas que pensávamos conhecer.
Frágeis somos porque nos afundamos, sem querer, em Mondegos perfeitos.
Frágeis somos porque amamos, porque sofremos e porque voltamos a amar.
Frágeis somos porque sonhamos. E o sonho é o nosso bem mais frágil.
Frágeis somos porque acreditamos. E a esperança e a fé não foram feitas para zombarem delas.
Mas, acima de tudo, frágeis somos porque achamos que a fragilidade não toca no Homem.
Frágeis somos e frágeis vivemos...



Prendi o meu coração.
Enjaulei-te em grades de diamante.
Deixei-te longe, lá longe.
Não procurei mais por ti.
Prendi o meu coração. 

Fugi do amor.
Venci a melancolia.
Arranquei coisas boas e coisas más daqui.
Queimei o tempo.
Fugi do amor. 

Derrotei a mágoa.
Risquei o que era caminho e desenhei onde tudo era confusão.
Apaguei-me do mundo.
Arruinei memórias e pensamentos.
Derrotei a mágoa.

Encontrei-me sem ti.
Deixei de ver o meu chão.
O meu céu perdeu o azul e o sol.
A minha noite esqueceu as estrelas.
Encontrei-me sem ti. 

Protejo-me do mundo com um sorriso.
Cosi as minhas palavras aos meus sentimentos e afoguei-os.
Cortei o meu sangue e deitei-o ao Mondego.
Camuflei a minha carne com uma armadura de ferro.
Protejo-me do mundo com um sorriso.


Às vezes queremos tanto, tanto conseguir um dia relembrar momentos tão doces, tão únicos que não sabemos como o fazer!
Cada um de nós tem uma estratégia... A minha, aquela que me chama o coração, é a escrita!
Não sei como o justificar, mas é apenas ao escrever que me sinto realmente a guardar momentos comigo. A esculpir pessoas dentro de mim, a gravar os seus nomes e o significado que têm  em cada uma das gavetinhas do meu miocárdio! A pintar (c)idades com palavras e a escrever Mondegos em linhas rectas! A chover emoções e a nevar tradições! É uma sensação incrível poder dizer que uma família não tem de ser de sangue! E é incrível porque posso dizê-lo e senti-lo. É fantástico poder dizer que temos alguém que nos ouve, que nos olha, que nos sorri e que nos abraça com a força de uma vida! O poder das palavras e de tantos gestos e atitudes é incomensurável. E há tão poucos a dar-lhe o devido valor...

As crianças adoram miminhos e pedem-nos sem qualquer tipo de «preconceito»! Mas nós, com a excessiva carga de pensamentos, esquecemos a que é necessidade básica de um coração que bate - conforto de contacto... (Já ouviram falar das experiências de Harlow com macacos Rhesus?).
Esta necessidade de afecto é fundamental para a criação de laços. Somos feitos de carne, não de ferro e de vidro, e esquecer isto é meio caminho andado para o cinzento da solidão! Devíamos deixar a cor dos miminhos visitar aquele que nos bombeia o sangue! Porque os miminhos, tenhamos a idade que tivermos, são sempre saborosos! Pareço uma criança a escrever? É muito provável, porque agora não sou eu que escrevo, é a criança que há em mim que controla os meus dedos!
E é por isto que penso que o mundo nas mãos de uma criança seria tão mais seguro!
Há momentos em que todos nós desejávamos voltar a ser crianças! Porque será?

Ilustração retirada do Pinterest.

Está aqui... e aí ao mesmo tempo!

Está em todo o lado. 
Bem cedo, na beleza da aurora. No nevoeiro que nos envolve e nos aconchega. Na chuva, agressiva e cinzenta. No vento que passa por nós no Inverno e na brisa que desliza connosco no Verão! Na mares
ia encantadora. Nestas areias lusitanas!
Aqui, onde estou. Aí, onde está!
No ar que respiramos quando pensamos nas palavras, no ritmo, na música. No silêncio. Até me parece que há algo de poético na ausência da poesia. (Mas estaria a contradizer-me porque afirmo que ela está sempre em todo o lado...).
Na luz efémera que não vemos das nossas almas.
Na Saudade!
Nas suas palavras. Em si! Em nós! No Mundo e no Amanhã!



A folha de papel, amarrotada e abandonada na secretária, grita. Esforça-se para conseguir ser ouvida. Cheira a suor e a lágrimas tristes e desesperadas. Cheira a derrota. Deixá-la ali, desamparada e friorenta mais um dia, seria um acto de maldade. Francisco Gabriel apanhou-a, desembrulhou-a e deu-lhe voz. De repente ouvem-se passos no corredor. O avô leitor cala-se. Cessa a sua voz antes que alguém o possa ouvir a recitar os versos velhos e esquecidos. Foi ele quem os escreveu... Há uns meses atrás começou a sentir-se demasiado sozinho, demasiado angustiado. Maria Carolina, a sua esposa, havia falecido no mês em que a água se transforma em gelo. Para Francisco, não havia muito mais para ver no mundo. Os passos aproximavam-se serenamente. Os seus olhos seguiam cada linha escrita com uma atenção perturbada pela curiosidade. Ouviu uma respiração...
- Avô!
Era Sebastião, o menino de olhinho verde e cabelinho cor de mel, um dos seus três netos. Francisco abre os olhos de felicidade e os braços de saudade. O seu coração tremia outra vez.
- Vem cá, Sebastião!
Abraçaram-se. O neto sentiu o avô feliz. Deu-lhe um grande beijo nas barbas de avô antigo e grande. Os seus bracinhos, pequeninos, em volta do pescoço carnudo do avô sobressaíam numa espécie de beleza familiar inconfundível.
- O pai e a mãe estão a tirar as malas do carro!
- E a Sofia e o Frederico?
- A Sofia ficou a ajudar os pais... O Frederico vinha mesmo atrás de mim. Se calhar foi à casa de banho.
- Vamos descer e ajudar com as malas também?
- Vamos, avô! Já tinha saudades tuas. E das tuas histórias. Sabes, avô... desta vez também tenho histórias para te contar.
- Que bom, pequenote!

Ilustração retirada do Pinterest.


Queria que alguns momentos se tornassem infinitos e vivessem dentro de mim!
Apetecia-me imortalizar tantas pequenas coisas... sabem... aquelas coisas que não fazem sentido absolutamente nenhum, mas que quando partilhadas com a(s) pessoa(s) certa(s) são tudo para nós!
Tinha tanta vontade de entrelaçar recordações com os meus dedos, no meu coração, e deixá-las lá, para o colorirem quando a Saudade o desbota.
Gostava de guardar os sorrisos de amigos nos meus pulmões, para me ajudarem a respirar quando a tristeza me sufoca.
Adorava ter uma caixinha sem fundo dentro de mim para poder guardar pedaços (e)ternos de quem por mim passa.
Agora, enquanto escrevo a minha nova infância, gravo Coimbra no meu mundo, para que faça parte de mim, ou para que faça eu parte dela.
Ilustração retirada do Pinterest.


Pisei uma flor amarela. Pisei uma flor amarela igual à que um menino pediu à mãe para apanhar quando passeava com ela na rua, de manhã, a caminho da escola. O menino disse à mãe que a flor era para oferecer à Madalena. A mãe deu uma gargalhada intensa, mas amorosa. Pisei uma flor amarela, caída na calçada, murcha, com as pétalas sem força, desmanchadas na escuridão da chuva.
Olhei para o céu e vi nuvens de um branco tão branco que se assemelhavam ao Olimpo, de uma pureza tão paradisíaca, de uma perfeição tão única nas suas formas cheias de curvas, de caracóis definidos e infinitos... O sol estava escondido. Ía chover. Toda aquela água no céu não se aguentaria por muito mais tempo. O algodão, suspenso e fofo, desfazia-se em bocadinhos, dispersando-se vagarosamente no cinzento mais claro do céu.
Ao andar, com a pressa quotidiana e o cansaço permanente, sentia os meus pés a arrastarem-se morosamente. Encontrava pelo caminho folhas de Outono, no Verão. O fim do fim aproximava-se melancolicamente do mundo. Não havia nada no ar. Não havia esperança, não havia felicidade, não havia vida. Faltava aquilo que fazia falta a tudo.
Ilustração retirada do Pinterest.


Esta noite vou escrever até cansar as palavras! Vou escrever até não poder mais, até os meus dedos implorarem por repouso. Vou escrever sobre mim, sobre a chuva, sobre a cidade, sobre os outros e sobre mim outra vez! 
Vou ficar acordada à espera dos pensamentos, das memórias e quimeras. 

Pela primeira vez, vou escrever para mim e para o meu sonho! Que seja espontâneo aquilo que cair com tinta sobre o papel. Que seja verdadeiro e não apenas mais (um pedaço de) uma história mais ou menos inventada... Que seja eu em prosa! Ou em poesia! Mas que seja eu. 

Depois de o escrever, lê-lo-ei. E aí será como ter um espelho à minha frente.Ver-me com os meus olhos, mas através de palavras! E sei que aquilo que penso que vou ver é totalmente diferente daquilo que realmente vou ler e deveras diferente daquilo que os outros vêem em mim! Mas não me vou importar! Preciso de saber o que penso, como penso e porque o penso! Só assim me posso conhecer.

Esta noite vai ser assim até que a alvorada me faça parar. Esperarei pelo nascer de uma luz que me acorde deste sono que é meu! 


-Tens a tristeza nos olhos, querida!
-Eu sei, tia...
Abraçaram-se com a força de um trovão e a sua tempestade abrandou. Nunca tinha pensado em falar com alguém, em pedir ajuda...até que chegou o dia em que não aguentou mais... ela sabia que algo não estava bem, só não sabia o quê. Aquilo que ela questiona há meses e aquilo que sofre há anos tinha de ter um fim... mas ela não o conseguia encontrar sozinha! Sabia que estava a ir por caminhos que não devia e que, se estes fossem para ser mudados, já o deveriam ter sido. Ora, se não mudaram até ali, não seria agora nem depois que iriam mudar. O que estava a acontecer era precisamente o contrário.
- Mas o que é que tens, amor? Tu tens tudo para ser feliz!
- Pois tenho, tia! E eu sei disso... Só que eu já não estou bem há muito tempo e talvez seja esse o motivo da minha indisposição...
- Mas não estás feliz?
- Estou!
- Então, o que se passa?
- Eu estou bem, mas...
- E di-lo com os olhos em lágrimas?
- Estou bem, isto passa!
Mas não passava... e as lágrimas de dia escondiam-se atrás do seu sorriso, afogando a sua alma. As da noite salgavam os seus olhos até arderem, sem ar para respirar.
- Eu estou aqui... Posso ouvir-te!
- Deixe estar, tia. Não se preocupe.
E as lágrimas caíam-lhe pela face num desespero mudo!
- Desculpe!
- Não tens que me pedir desculpa, querida!
A tia Luísa ofereceu-lhe um sorriso e ela ficou muito triste por não ter conseguido retribuir a mais bonita forma de um rosto humano.
E era tão triste estar triste! Ter água nos olhos e no coração e não conseguir fazê-la parar de sair. Ela sabia reconhecer recaídas... quando não se aguentava na escola, um fim estava para chegar. Geralmente, conseguia guardar as lágrimas quentes para a noite. Quando isto não acontecia, um dos seus velhos novos limites estaria perto...
Mas começava a pensar que até os limites têm limite! E ela precisava de ajuda para não chegar perto deste último.
Ilustração retirada do Pinteret.


Só me apetece gritar em cima das costas do mundo e roubar-lhe o vento... Saltar para o seu dorso, fechar os olhos e ouvir-me a gritar. A soltar a minha voz, a vós! Pedir à minha estrela que me abrace e me ajude a amanhecer, no dia seguinte.
Estou cansada. Sinto-me morta por dentro e por fora. Mas a verdade é que há qualquer coisa cá dentro que ainda não morreu. Vive, calada e escondida, à minha espera! Com a leve, ténue esperança de que eu volte. De que eu continue. De que eu viva outra vez.
Ilustração retirada do Pinterest.


Se eu fosse como o mar, beijaria o céu quando ele chorasse.
Se eu fosse como a chuva, limparia o rosto das árvores secas.
Se eu fosse como as nuvens, voaria nos sorrisos do sol e da lua.
Se eu fosse como as estrelas, iluminaria o coração da noite.
Se eu fosse como uma tempestade, bombearia o sangue da Terra a todos os seus cantos.
Ilustração retirada do Pinterest.


Estou aqui. 
Sentada a escrever, no quarto habitado pelo Inverno... lembro-me de mim. As memórias escurecem. O papel está a conhecer-me.
Levo horas para encher toda uma folha. Penso e sinto e escrevo. Penso e sinto e escrevo.
As minhas mãos segregam a seiva que a folha, pálida e fria, necessita para viver. Os meus dedos, ansiosos por recordar, tremem ligeiramente na caneta macia.
Escrevo-me.
Letras pretas caem por fim onde têm de cair. Amarguradas algumas, indiferentes outras... mas sempre esperançosas as do presente! Porque se não fosse para continuar, o Sol já havia deixado de nascer para toda a Terra há muito, muito tempo.
Agora, estou no papel, em tinta, em aroma que flutua na história. Na minha pequena, pequeníssima história. Na minha insignificante história.
As palavras trouxeram-me magia. Sem querer, caí com elas num poço de segredos e mistérios. Fiquei!
Escrevo-me para continuar. Para amanhã sorrir com a aurora e descansar com o crepúsculo. Outra vez e outra vez! Para amanhã conseguir dizer Amanhã!
Sophia em Lagos. Anos 60. Fotografia de João Cutileiro.


Heroína com poderes mágicos... O poder do fogo, da água, da terra e do mar. Vinda de poemas sonhados no Coração da Grécia Antiga, é hoje livre no vento e na brisa do cosmos que nos beijam e nos abraçam à luz de ocaso indefinido.
A Costureira de Palavras, que as ia cosendo umas às outras com agulhas de poetisa sonhadora, continua entre nós, na essência da maresia, no azul resplandecente cobiçado pelo  céu e pelo mar e no mistério da mitologia.
Imagino que até o seu último suspiro tenha sido perfeito e tenha libertado consigo uma sinfonia unicamente arrebatadora que o imortalizasse ou o tornasse eterno. Pergunto-me se as suas últimas palavras foram ouvidas pelas estrelas fúlgidas e longínquas que iluminam a abóbada celeste quando o sol descansa.
Com a sua sabedoria, Sophia fechou os olhos, deixando que a sua alma voasse no mundo dos não vivos, para que no nosso, o seu corpo descansasse em paz!
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