Um sonho é sempre um sonho... e quando é escrito sempre nos parece mais real!

Ilustração retirada do Pinterest.


Cheguei à escola. É o meu primeiro dia de trabalho. Os miúdos correm e conversam sobre as férias. Anseiam pela primeira aula para saber quem é o professor. Vozes de crianças e adolescentes invadem o ambiente com que sempre sonhei. As vozes de Amanhã. Muitos Amanhãs. Farei parte de alguns deles. E isso faz-me tão feliz!
Chego à sala de professores tão ansiosa como no primeiro dia de aulas na faculdade. Estudei no Porto. Na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Na cidade onde nascem as musas de poetas fantásticos. Ali nasci, ali fiquei. Não tive coragem de abandonar o Douro quando iniciei o meu percurso académico! Hoje, teve de ser. Saí do meu berço inconfundível e incomparavelmente maravilhoso. Fiz as malas há uma semana e viajei até à capital. Mas sinto-me deslocada, como se o Porto se tivesse evaporado e eu já não o pudesse ver mais. Lisboa é uma cidade bonita, mas o Porto é a minha paixão. O Tejo é brilhante, mas o Douro é a luz da minha alma.
Os mais velhos olham para mim por ser uma cara nova. Os mais novos também olham mas mais timidamente. Cumprimento alguns, dizendo um «bom dia» alegre, apresento-me a outros, tentando encontrar os restantes professores de Língua Portuguesa da escola.
Ainda um pouco atrapalhada, tentava encontrar o livro de ponto do 9ºE - a minha primeira turma do meu percurso profissional. O programa era o mais interessante de todos os anos. Continha matérias mais aprofundadas e só gostava da disciplina quem realmente gostasse de Português.
Antes do toque, dirigi-me para a sala, para não me atrasar, pois ainda não conhecia muito bem os cantos à casa.
A campainha solta um grito estridente e ouvem-se, automaticamente segundos depois, passos apressados, uns mais entusiasmados do que outros, a subirem as escadas. Depois as cadeiras a arrastarem no chão, ao contrário daquilo que o professor ordena (e continuará a ordenar, mas sempre sem efeito...). Para certas coisas, não há remédio! Os primeiros alunos entram, sentam-se nas primeiras carteiras, e muito acanhados, dizem «bom dia». Caramba, eu não faço mal! Eu também era assim? Riram-se! É um bom começo... tentar criar laços. Não é a meter medo que lhes vou enfiar Camões na cabeça, muito menos na alma!
A aula foi produtiva. Acho que eles gostaram de mim e eu, pelo menos, gostei deles. É uma turma simpática, apesar de conversadora... resta saber se trabalham bem. Tenho a sensação de que se vai descobrir um ou outro talento na escrita. Vou insistir nesta actividade como tarefa extra e facultativa semanal, contribuindo obviamente para o aproveitamento. Acho importante fazê-lo porque às vezes nem eles próprios sabem que gostam de escrever! Eu, professora Carolina, de Língua Portuguesa, hei-de ensinar as almas a (en)cantar o mundo em versos. Hei-de mostrar aos miúdos que a prosa é o que nos faz cair e o que nos faz levantar. São as palavras em linha recta que movem mundos!
Numa turma, há sempre um leitor compulsivo... mal posso esperar para descobrir qual deles é!
*fictício (escrito em Maio de 2010)

4 Comments

  1. Que encanto de texto, minha querida! Há sonhos que mudam vidas e isso só pode ser inspirador. E acredito mesmo que os professores com quem nos cruzamos têm o dom de despertar em nós determinadas paixões - sendo a leitura uma delas.

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