Fotografia tirada pelo meu irmão, Tomás. |
E lá estava ela! No seu glorioso manto celestial, a voar de forma sublime, como que um guerreiro ilustre, antes do confronto com os inimigos. A brisa primaveril deslizava-lhe pelo bico de bronze e acompanhava o voo das suas asas brancas, cinzentas e sujas de sal proveniente das gotículas de água que se lhe entranhavam nas penas, aquando da sua pesca de alimento (por vezes, manchado pelo óleo negro, espesso e mortal espalhado pelo Homem, no grande lago único) para garantir a sua sobrevivência.
A tranquilidade do oceano levava-a a nadar calmamente pela ondulação do alto mar, para que o seu espírito recolhesse aquela serenidade e brancura do clima marinho e apreendesse aquele som da boca do mundo a marulhar, a roncar, certas vezes, quando se zangava com as nuvens e provocava as lágrimas do céu, os gritos de desespero e preces do horizonte manchado pela tristeza, quase invisível aos nossos olhos.
A maresia libertada pela espuma esbranquiçada no rebentar das ondas azuis e brilhantes preenchia também parte da essência da gaivota.
O seu piar, esganiçado e alterado pelo ambiente silencioso em constante movimento, era testemunha da existência de lugares assim, como aquele, de certa forma paradisíacos.
A areia dourada nascida nas arribas altas e majestosas da falésia e as restantes rochas com semelhante berço constituíam o porto de abrigo dessas aves.
Um dia de inverno, esta criatura levantou voo, cansada de si, velha do mundo e extasiada do mar. Foi a última vez que o fez. Foi a última vez que voou! A ela parecera-lhe normal, uma manhã cinzenta e nebulosa, tal como todas as manhãs de uma estação fria e triste, onde o sol se esconde entre as brumas da vida. A meio do seu percurso algo falhou. Sentiu-se cair, sem dor nem alegria, apenas caindo, com aquela normalidade de algo que se desvanece, como se soubesse que chegara a sua hora e que a escuridão da morte a seguraria antes de sentir o seu corpo gélido da água do mar na sua queda! Como se conhecesse o ciclo da vida de um ser vivo temporário neste local pequeno e (des)conhecido.
Adeus, Asas de Vento! Desfruta desse teu voo que é agora infindo e deixa a tua alma ecoar no mundo dos não vivos.
4 Comments
Quanta beleza e melancolia nestas palavras! O textos está maravilhoso e contrastante, por representar esse ciclo da vida inevitável a todos os seres.
ResponderEliminarEstás - sempre - de parabéns, minha querida *-*
r: Tem mesmo :)
Beijinho grande
Que texto bonito, tens imenso jeito para escrever (=
ResponderEliminarR: Não, não é Itália =D amanhã já vais poder saber tudo no Instagram hehe
Ler esta publicação deu-me tanta serenidade, que poder que tiveram as tuas palavras!
ResponderEliminarBeijinhos
Blog: Life of Cherry
Bonito o texto, Carolina, e como escreveu a Andreia, além de beleza há também melancolia nessas palavras. Um abraço :)
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Obrigada pela tua visita :)