Demos passos na rua. Voltámos a repetir as sequências inconscientes de pegadas no alcatrão derretido da estrada. Tentámos recuperar histórias enterradas pelo peso do tempo. Descobrimos que o tempo é a ideia abstracta mais pesada que ataca a memória das pessoas, sem avisar, levando-as consigo e transportando-as para o esquecimento.
Voltámos para casa.
Rasgámos o papel de parede e riscámos o chão. Encontrámos o pisa-papéis dentro do baú, castanho e velho, que descansava no terceiro canto do lar. Abrimos a janela e colocámo-lo no parapeito para apanhar ar fresco e sol.
O tempo vinha e matava. O tempo vinha e fecundava.
Demos passos na casa. Demos passeios no jardim. Da relva via-se a janela do escritório aberta. Não podíamos vender a casa! Era de família. Fazia parte da família. Estava lá a nossa história.
Fechámos a janela. Fomos embora com saudades dos tempos que não vivemos.
Chorámos.
Demos passos na rua.
1 Comments
Há coisas que são muito nossas e das quais não nos conseguimos desfazer. Precisamente, por essa carga histórica e emocional!
ResponderEliminarLindíssimo, minha querida *-*
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