The Ginger Bookworm

Presumo que seja bom sentir saudade. Significa que valeu a pena! Significa que aquilo que vivemos em tempos ficou escrito nas nossas memórias e pintado nos nossos corações… mas, caramba, tem a felicidade de ser tão dolorosa?
É fantástico ser feliz! É fantástico vivermos felizes com pessoas felizes! Mas quando perdemos as pessoas da nossa felicidade, tudo morre para nós. Percebemos que o que conta na vida são mesmo os momentos em que sentimos o amor. Damos conta que nada nem ninguém é eterno! E nasce uma súbita tristeza que não sabemos apagar! Perguntamos ao cosmos porque é que não nascemos nós ensinados a dar mais valor e a amar mais e a perdoar mais, porque não são só os erros que permanecem. As pessoas que os cometeram e que, simultaneamente, amamos também esperam pelo nosso perdão. Também o amor espera por nós! E se, por teimosia, orgulho ou outra coisa qualquer, sem saber que nome lhe chamar, não perdoamos, então seremos nós quem está a errar sem saber. Será mais tarde que nos aperceberemos deste nosso erro fatal!
E como se engana a saudade eterna? (Sim, enganar! Porque matar definitivamente não se consegue).
Eu engano a Saudade a escrever para ti, como se um dia me fosses ler!


Demos passos na rua. Voltámos a repetir as sequências inconscientes de pegadas no alcatrão derretido da estrada. Tentámos recuperar histórias enterradas pelo peso do tempo. Descobrimos que o tempo é a ideia abstracta mais pesada que ataca a memória das pessoas, sem avisar, levando-as consigo e transportando-as para o esquecimento.

Voltámos para casa.
Rasgámos o papel de parede e riscámos o chão. Encontrámos o pisa-papéis dentro do baú, castanho e velho, que descansava no terceiro canto do lar. Abrimos a janela e colocámo-lo no parapeito para apanhar ar fresco e sol.
O tempo vinha e matava. O tempo vinha e fecundava.
Demos passos na casa. Demos passeios no jardim. Da relva via-se a janela do escritório aberta. Não podíamos vender a casa! Era de família. Fazia parte da família. Estava lá a nossa história.

Fechámos a janela. Fomos embora com saudades dos tempos que não vivemos.
Chorámos.
Demos passos na rua.

Se a poesia nasce no coração, abre o teu peito para o papel. Deixa voar o que há em ti para as linhas ainda em branco e dá ao mundo a brisa rara das palavras que ele tanto precisa para respirar. Dá voz aos que estão calados, nas estantes, grita-lhes o seu nome, clama os seus versos incansavelmente até te faltar o ar no sangue. Lê, em voz alta, aqueles que te inspiram. Mais alto. Mais alto! Tens medo de quê? A poesia só te faz bem!
Se a poesia nasce no coração, abre o teu peito para o papel. Mas abre-o mesmo! Não tenhas medo de vozes, nem de pensamentos alheios. O que é alheio é lá com eles e tu não lhes pertences. Tu pertences a ti e ao teu mundo! Lê, escreve, reescreve, grita até, mas não deixes a poesia morrer. Não deixes os versos caírem no poço do esquecimento! Eles foram escritos para serem lidos, questionados, compreendidos, mas não para serem esquecidos!
Abre o teu peito e deixa-o sentir-se livre e confiante na pureza das folhas de papel. Não deixes, por favor, a poesia morrer!



Outro fim. Outro princípio.

Nesta despedida, que é diferente, mas igualmente dolorosa, levo as minhas "Marias" e os meus "Manéis" no meu coração. Da Piscina, do Pilates, da Clínica e dos Lares.
Acabamos sempre por criar laços bem fortes, entrelaçados com a força do vento e do mar, que já não se quebram. E é tão bom. É tão bom ser uma humana a trabalhar com pessoas. Pessoas bonitas, com uma alma bonita.
Aprendi com todas elas. Coisas boas, coisas más, coisas assim-assim.
Aprendi ainda mais sobre o sofrimento alheio, como entendê-lo, aceitá-lo e como tentar reduzi-lo das mais variadas formas.
Aprendi sobretudo a fazer rir! Rir, o melhor remédio, dizem! E, às vezes, é-o mesmo, porque nem sempre se pode fazer muito mais. Por vezes, é preciso esperar e, enquanto se espera, movemos os nossos rostos de uma forma mágica e maravilhosa que desenha, que esculpe, que pinta um riso, uma gargalhada espontânea, daquelas que saem mesmo das entranhas. Daquelas mesmo boas, sabem?
Nem sempre é assim tão bonito, nem tão fácil. Na maior parte das vezes, é duro, muito duro. E rir é a última coisa que lhes apetece fazer. E, por isso, aprendi também a não fazer rir. A respeitar tempos.
Aprendi a rir da dor e com a dor.
(A)Prendi a dor. Conheço-a, mas não a sei de cor, nem a sei expulsar dos caminhos.
Aprendi a pousar a bata no cabide e a deixar as coisas do trabalho, dentro do bolso da bata. Mais tarde, aprendi que na verdade não consigo fazê-lo. Levo emoções, aprendizagens e pensamentos comigo para todo o lado. Levo memórias, boas e menos boas, mas que fazem parte do quotidiano.
Aprendi que alguns de nós somos mesmo muito parecidos. Teci um carinho e uma amizade muito especial por cada um deles, mesmo sendo tantos e tão diferentes.
Aprendi a ver o mar todos os dias depois de sair do trabalho. Aprendi a deixar que o mar me acalme da azáfama interior.
Aprendi mais um bocadinho do quão complexo e bonito é o ser humano, por dentro e por fora.
Relembrei que estarei eternamente, todos os dias, a aprender. Nunca saberemos tudo, mas lutamos cada dia contra isso, para saber mais. É um clichê, mas é verdade.
Relembrei o quão bonita é esta profissão, tão mal tratada e rebaixada, por vezes.
Relembrei que ser Fisioterapeuta é (aprender a) ser humano!
Nunca é um adeus. É sempre um até já.
Com carinho,
Da Carolina

Admiro tremendamente o silêncio, o sol posto atrás do mar, as nuvens a dançar, o marulhar e o chilrear das gaivotas.

Admiro tremendamente o sentimento de estar só, só com a Mãe Terra, Natureza, a ouvir o seu bater do coração e os seus sussurros que passam com o vento e os seus murmúrios que vêm com a chuva para os meus ouvidos.

Admiro tremendamente  sentir cada grão de areia dourada entre os meus dedos dos pés e das mãos, sentir a espuma de uma onda do mar salgado e gelado, acabada de rebentar, que sobe pela areia, beijando-me a pele delicadamente.

Admiro tremendamente a relva, a terra e as ervas que me fazem cócegas nos tornozelos e cafuné nos cabelos quando me deito em toalhas finas no campo.

Admiro tremendamente o silêncio.
Admiro tremendamente estar só.
Serei normal?

Admiro tremendamente a Mãe Terra.
E assim sou feliz.


Guardava a sua dor para si e sentia também a dor dos outros. A dor. Respirá-la! Deixá-la entrar nos seus pulmões e permitir que tomasse conta do seu coração.
Cansou-se de se preocupar consigo. Desistiu de si!
Vivia com a melancolia da vida em cima dos seus ombros. Com o peso do mundo no seu rosto. Todo o ruído da cidade o escurecia. Tornava-o cada vez mais exausto e empurrava-o para a sombra. Havia anos que colhia a dor do mundo e escondia a sua fragilidade nas entranhas. Aparentava felicidade que não possuía e deixava as lágrimas quentes para a noite solitária. 

Perdera toda a esperança. 
Agora, deixa-se envelhecer com o tempo. Esquece o passado, respira o presente e ignora o futuro.
Fixei-o. Tinha a tristeza nos olhos! 
Como tratar uma alma assim, tão só, tão apertada de sofrimento?
Um abraço não chega. Nunca chega. Ajuda, mas não chega! 
Há coisas que não se curam com um abraço e todos o sabemos! É um gesto tão bonito e tão poderoso! Quem o recebe sente uma vontade de continuar, por momentos... mas, por vezes, rapidamente se desvanece com a tomada de consciência da realidade. E, nessas horas, deseja-se a inconsciência! Quem o dá, sente, muitas vezes, que é insuficiente e não sabe o que mais fazer para ver um sorriso honesto. Quem o dá sente-se tantas vezes impotente! 

Há situações em que não podemos dar muito mais do que um abraço! Acredito (quero muito continuar a acreditar) que esse abraço seja reconfortante e sentido com todo o coração, porque apesar de tudo não deixa de ser um abraço e não deixa de ter um pedacinho meu lá dentro! E nesses dias, um abraço é melhor do que nada, um abraço pode ser o melhor que esse alguém recebeu nos últimos tempos.


A angústia é viciante, sabiam?
Após aquelas duas tentativas de sair deste mundo, sem sucesso, sinto-me a coisa mais inútil à face da terra. Nem deixar de viver consigo!
Esteve aqui a pessoa mais importante para mim e eu não fui capaz de lhe falar. Só olhei para aqueles olhos aflitos e assustados e deixei-me chorar à sua frente. A minha fraqueza tinha acabado de acordar diante dos seus olhos. Mas eu já não conseguia mais. Já tinha feito o que tinha a fazer e já tinha amado o que me fora dado para amar... e foi mais do que suficiente. Eu é que fui fraca. Não consegui dizer nada. A minha voz tinha desaparecido e uma tosse seca e sem fim tomava conta de mim. Sentia-me a morrer, mas a minha vida insistia em ficar comigo! Ela deu-me a mão e contou-me a sua história. Esperava que eu a ouvisse e que não me sentisse mais sozinha. E não senti. Mas há coisas que sinto dentro de mim que não consigo explicar de maneira nenhuma. Aquela criação de ainda mais laços e toda aquela intimidade nua e crua, ali, naquele quarto de hospital, fez-me ver a verdadeira pessoa que ali estava. Alguém como eu. Alguém com sonhos apagados e realidades acesas na mente. Alguém que havia estado no mesmo lugar que eu, por motivos completamente diferentes, mas de estranha semelhança no modo de lidar com conflitos. A diferença é que ela era uma pessoa incrivelmente mais forte e determinada do que eu. Ela mereceu passar por cima de tudo e conseguir continuar. Mereceu cada instante de felicidade que lhe foi proporcionado depois. É uma mulher. Uma grande mulher! Mas eu sou pequena.

*fictício
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