Angústia. Nostalgia.
Um peso enorme no peito. E vontade de deixar a vida.
Ela sentia-se cheia de tudo! E tinha o coração tão vazio!
Pensou como seria o mundo sem ela: não muito diferente. Achou que a sua presença no cosmos era algo superficial, sem valor! E imaginou como seria se se deixasse cair pelo vento: queria que fosse rápido e indolor – algo que lhe roubasse os problemas e lhe oferecesse motivos para sorrir – pois mais dor ela não conseguiria suportar. O seu coração já tinha sido espezinhado com a força suficiente, vezes suficientes. Já não suportava mais lágrimas a afogá-la diariamente.
Regrediu. E se alguém a empurrasse? Não seria injusto? Talvez. Mas ela queria fazê-lo e não que alguém o fizesse por ela. Sentiu o desejo da vingança se o fizessem, contudo sem saber o porquê de tal fúria. Parou. Pensou. Talvez não fosse aquilo que ela desejava, caso contrário, não se importaria se o fizessem.
Respirou fundo e pensou que talvez estivesse a ter um ataque de desespero e que se poderia estar a precipitar. Caiu em si. Deixou a consciência aterrar na sua pessoa. Ouviu vozes doces que soavam do local onde o mar e o céu se encontram. Admirou a beleza do olhar mais profundo que lhe ofereceram e recordou momentos em que lhe deram as mãos e não a deixaram cair. Valia a pena por estas pessoas, não as queria fazer sentir miseráveis, que todo o seu apoio fora em vão. Por outro lado, sentia que não era desejada noutros lugares.
O desgosto voltou a invadir-lhe o ser. Essas pessoas que lhe deram as mãos estariam cá para se apoiarem e haveria, certamente, mais gente para os fazer sorrir (melhores do que ela nessa tarefa, segundo o seu pensamento).
Só queria ouvir a voz do seu filho mais uma vez, sentir-lhe o perfume dos cabelos encaracolados… e faltava tempo para isso!
Deu um passo em frente e colocou todo o seu peso e força no seguinte. Caiu. Mais morta do que viva. E sentia já o aroma de algodão doce que ficava colado às maçãs do rosto do seu rebento.
Caramba, era longe! O tempo que sucedeu não passou de alguns segundos, todavia pareceram-lhe horas! As gotas de água salgada que fugiam do embate forte e violento das ondas na falésia colavam-se-lhe no rosto e os raios dourados do sol tardio faziam-nas brilhar, como diamantes, nas suas pestanas negras e pesadas de tristeza e nos seus lábios já sem cor.
Por fim, sentiu! E não se arrependeu.
O seu corpo, dolorido e estarrecido pelas batalhas em vida, caiu. Embateu em rochedos. Uma onda cinzenta engoliu-o para as suas entranhas. A sua alma, essa, já se encontrava a sorrir com o seu fruto!
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