Portus Cale. Porto Quente. Porto Seguro. Portugal!

Fotografia tirada pelo meu irmão.
Somos as casas brancas, caiadas a trinchas velhas, gastas por tanto esfregar nas paredes ásperas de grãos de areia. Paredes com cores frias, mas quentes de tanto amor dos nossos pais, avós e bisavós, construídas pelos próprios. Paredes que nos viram crescer, correr pelo pátio afora para esfolar os joelhos no cimento e na terra, que não havia estradas de alcatrão, de tanto tropeçar nas brincadeiras das ruas e vielas da aldeia que cheirava a mar, a pinhal, a rio, a serra, a mundo. Da aldeia do norte, do centro, do interior, do sul. Da aldeia saloia, do Oeste.

Somos os portões de madeira e de metal, engenhos de quem mais não podia, e feitos com o que se encontrava perdido das gentes e que a ninguém mais pertencia. Somos os pátios de cimento lascado e as estradas de terra batida por onde passavam os rebanhos e os tractores dos tios e dos avós. Somos as terras. As terras onde se cultivava tudo o que caía no nosso prato à hora da sagrada refeição.
Somos os barcos humildes que descansavam no porto seguro e esperavam por mais uma partida para a faina. Somos pescadores e navegadores. Mas somos também pais, mães, filhos e filhas que ainda esperam por regressos incertos. Fomos exploradores de meio mundo, com uma coragem indestrutível. Guerreiros e defensores da nação.
O Fado. A guitarra portuguesa. As vozes ricas em sentimentos presos ao peito, em ânsia para se soltarem na liberdade do mundo.
Os coretos e os bailaricos de Verão. As concertinas, os acordeões e as vozes agudas e estridentes dos ranchos folclóricos portugueses.
Amar. O mar. O além-mar. Somos navegadores, conquistadores e vencedores do Mostrengo do Adamastor. Fomos às Tormentas e trouxemos a Boa Esperança.
Somos Camões e Pessoa(s). Somos a língua portuguesa, a sua pátria. Somos os livros de História que contam a nossa história no mundo. Somos o nevoeiro das manhãs cerradas que esperam o regresso de D. Sebastião.
Somos os azulejos infinitos, das cores do mar, pintados com a serenidade do azul e com a pureza do branco. Somos o cozido à Portuguesa, o caldo verde e o chouriço, a chanfana e os queijos da serra, os enchidos, o bacalhau com mil e um nomes, a sardinha dos Santos Populares de Junho e as castanhas quentes embrulhadas em jornal do São Martinho de Novembro. Somos Licor Beirão e Vinho do Porto. Somos a feijoada das avós, as caldeiradas das tias, as açordas, o arroz de tomate, as pataniscas e as migas. Somos o bitoque, o prego e as omeletes. Somos os tremoços, os caracóis e a cerveja numa tarde de jogo no café.
Vermelho. Somos o sangue derramado. Verde. Somos e seremos sempre a esperança viva por todo o país espalhada. Somos lusitanos. Somos portugueses.
Somos Viana do Castelo, a terra de pescadores, com a Catedral de Santa Luzia e a Festa da Nossa Senhora da Agonia, onde o lindo Coração de Viana, de cores de ouro reluzente, é rei.
Somos Braga, o coração do Minho. Temos o Gerês e o seu encanto, o Santuário do Bom Jesus do Monte e a Sé mais antiga do país. Temos a viola braguesa e o galo de Barcelos. Saboreamos o bacalhau à moda de Braga, as papas de sarrabulho, os rojões, as frigideiras do cantinho e o pudim abade de Priscos.
Somos Vila Real e os passeios nos verdes jardins. Temos as Termas de Chaves e o Vidago Palace, as francesinhas deliciosas, vindas dos céus, muito vinho, carnes e enchidos, os pastéis de Chaves e as cristas de galo para saborear!
Somos Bragança, transmontanos de alma e coração, vizinhos de Espanha, cosidos com agulha numa costura à fronteira. Temos o Castelo e a Domus Municipalis, jardins lindos, muitos espaços verdes e o melhor Instituto Politécnico do país pelo 5º ano consecutivo. Temos os caretos de Podence e comemos posta à Mirandesa e butelo com casulas.
Somos Porto. Somos Douro. Somos os que fazem das tripas coração. Trocamos os «b» com os «v», laureamos a pevide por aí, e com a larica marcham as francesinhas e o vinho do Porto das caves do Cais de Gaia. Somos a Ponte de D. Luís, a Sé e o Paço Episcopal. Somos frontais e honestos e, se nos chatearem muito, mandamo-los dar uma volta ao bilhar grande e andor violeta.
Somos Aveiro, a Ria, a Veneza lusitana, e os moliceiros que por ela navegam. Somos as praias e os palheiros de Costa Nova. Somos os insubstituíveis ovos moles, as tripas inesquecíveis e o Leitão à Bairrada.
Somos Viseu. Temos a Sé, a Cava de Viriato, o Painel de Azulejos no Rossio e o Parque Florestal do Fontelo. Comemos vitela à Lafões, Viriatos e Rotundinhas.
Somos Guarda. Somos a Serra da Estrela, a neve no Inverno português. Temos a Sé Catedral, o Parque Ecológico de Gouveia, a Serra da Gardunha e a Capela de Nossa Senhora do Miléu. Comemos enchidos, caldo de grão, cabrito, o arroz de carquesa, o ensopado de cogumelos de Trancoso, a sopa de castanhas e o tão conhecido Queijo da Serra.
Somos Coimbra. Somos os estudantes com o coração preso numa cidade. Somos a Cabra, a Universidade, o Mondego, os fados e a eterna saudade. Somos a Quinta das Lágrimas e guardamos Pedro e Inês nas nossas memórias. Somos a Biblioteca Joanina. Temos a Académica, a Briosa e o Basófias.
Somos Castelo Branco. Somos a capital da Beira Baixa e temos a aldeia mais portuguesa de Portugal, as ruínas de Idanha-a-Velha, com granito contador de histórias romanas, as encantadoras Aldeias do Xisto e as doces Cerejas do Fundão.
Somos Leiria. Somos todo um Pinhal a renascer literalmente das cinzas com todas as forças e esperanças que nos restam. Somos o Santuário de Fátima, único e maravilhoso. Somos o Núcleo de Arte Contemporânea, na Marinha Grande e saboreamos as brisas do Liz com uma ginja de Óbidos a observar e a absorver toda a paisagem que o Castelo nos proporciona.
Somos Santarém. Somos Igrejas e Conventos, somos o Mercado, o Chafariz, a Casa do Brasil e o Jardim das Portas do Sol. Comemos ensopado de borrego e queixadas de porco assadas no forno, massa à Barrão, ensopado de enguias e petingas de escabeche. Adoramos as Celestes de Santa Clara, os pampilhos, queixinhos do céu e os arrepiados de Almoster.
Somos Portalegre. Somos o Castelo de Marvão, o Mosteiro de Flor da Rosa, o Convento de São Bernardo e o Aqueduto de Elvas. Somos a Serra da Penha e Castelo de Vide. Comemos sericaia, rebuçados de ovo, cabrito no forno ou ensopado, sarapatel, sopa de cação, boleima e amêndoas Dr. Portalegre.
Somos Lisboa e Tejo. Somos os Alfacinhas da cidade, as tias de Cascais e os Saloios do Oeste. Temos o eléctrico, os Pastéis e Torre de Belém, o Palácio da Pena e queijadas de Sintra. Temos o Palácio e Convento de Mafra, as Linhas e o Carnaval de Torres Vedras. No Verão, a Ericeira e Santa Cruz transformam-se em mares de gentes com fome e sede de praia.
Somos Setúbal. Somos raposas e Serra da Arrábida. Somos golfinho roaz-corvineiro e Estuário do Sado. No prato, temos sempre peixe grelhado, choco frito, barquinhos de laranja, tortas de Azeitão e fogaças de Palmela. No copo ou na garrafa, o Moscatel.
Somos Évora. Temos o Jardim e o Templo de Diana, o Jardim do Paraíso, o Aqueduto da Água da Prata, Chafariz, a Sé e a Universidade. Temos Igrejas, Conventos e Museus únicos. Na mesa, temos bifanas, açordas e sopas da Cação e como sobremesa o pão de Rala, as encharcadas e as Barrigas de Freira.
Somos Beja. O convívio à volta da mesa nos fins de tarde acompanham-se com torresmos, cabeças de borrego assadas, açordas, sopas de pão, fígado de coentrada, toucinho-do-céu, trouxas-de-ovos, cenourinhas de azeite e alho, azeitonas, tudo acompanhado com o autêntico pão alentejano e um copo de vinho. Somos o Castelo, a Torre de Menagem, o Museu Regional no Convento Nossa Sra. da Conceição, a Igreja de Santa Maria e o Museu de Dona Leonor. Somos as vozes do Cante Alentejano.
Somos Faro. Temos a Sé, a Igreja do Carmo, a Capela dos Ossos e o Castelo. Temos mil praias e a Praia da Falésia. Aqui nos Algarves, o Verão de Portugal, somos a bola de Berlim, que é fresca e fofinha, com e sem creme. Temos folclore, cestos de vime, alfarroba e comemos muito peixe, marisco e figos.
Somos as paisagens paradisíacas e os ananases dos Açores. Somos São Miguel, Santa Maria, Faial, Pico, São Jorge, Flores, Corvo, Terceira e Graciosa.
Somos as semilhas da Madeira, somos o Porto Santo, as Desertas e as Selvagens.
Somos muitos e grandes.
Somos tanta coisa num pedaço de terra tão pequeno.
Somos Portugal!

Vamos partilhar isto por Portugal fora?
Muito obrigada a quem, com a sua paciência, deu umas palavrinhas sobre a sua região, com todo o carinho, para tentar pintar um pequeno pedacinho de todos os pontos do nosso país tão rico e tão bonito. Pena é não conseguirmos dizer tudo de cada distrito, em tão poucas palavras. Ter gente amiga por este Portugal fora é uma bênção!

Estejam à vontade para partilhar connosco, nos comentários, mais pormenores da vossa região que não estejam aqui :)

6 Comments

  1. O nosso país é tão mágico! Foi impossível não me emocionar ao ler esta homenagem tão maravilhosa aos nossos distritos.
    Tens o dom da palavra, minha querida, e representaste cada um de forma sublime *-*

    r: Muito, muito obrigada!

    Aquele texto foi um verdadeiro desafio, até por ser uma realidade completamente distinta da minha. Fico mesmo feliz por receber esse feedback

    É mesmo :)

    Ainda bem que gostaste :D

    Beijinho grande

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  2. r: Digo-te o mesmo, minha querida, não tens que agradecer, até porque o mérito é todo teu :)

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  3. Somos pequeninos, mas como o tamanho não quer dizer nada... Somos lindos! :P Uma variedade incrível em tão pouco espaço.
    R: Se não havia um modelo igual em outras cores, existiam bem semelhantes! Pelo menos em preto :)
    Beijinhooos

    Automatic Destiny

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  4. Que texto incrível sobre o nosso maravilhoso país. Somos Portugal e basta, um povo quente, que continuemos a querer e a crescer, porque somos tão capazes :)

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  5. Que descrição mais perfeita! Somos pequenos e tão grandes ao mesmo tempo!.
    "Somos Porto. Somos Douro. Somos os que fazem das tripas coração. Trocamos os «b» com os «v», laureamos a pevide por aí, e com a larica marcham as francesinhas e o vinho do Porto das caves do Cais de Gaia. Somos a Ponte de D. Luís, a Sé e o Paço Episcopal. Somos frontais e honestos e, se nos chatearem muito, mandamo-los dar uma volta ao bilhar grande e andor violeta. "
    AMEI DESDE A PRIMEIRA LETRA À ÚLTIMA!

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