BIBLIOTECA - Terceiro Livro de Crónicas, de António Lobo Antunes


Comecei a ler António Lobo Antunes para Arte da Crónica. Gostei dos primeiros textos abordados e por isso comprei o livro.

Como tem uma escrita muito particular, acredito que não seja um autor para qualquer pessoa. É preciso habituarmo-nos a ele, à forma como expõe a sua mente, as suas perspectivas. Refere, muitas vezes, que não é ele que escreve, é uma identidade qualquer desconhecida que se apodera das suas mãos (da direita para escrever livros) para dar ao mundo obras que devem nascer. Inicialmente, ao ler este tipo de afirmações, associei àquele tipo de pessoas que romantiza a ocupação de escritor, mas continuei a lê-lo e percebo que foi uma interpretação precipitada da minha parte. Percebo o que se pretende transmitir. Por vezes, são criadas coisas que achamos impossíveis ou de tal beleza que nos impressiona que alguém humano o tenha dado à luz. Ora, isto acontece também com os livros e tenho a certeza que muitos de vós já pensaram isto de um livro e associam pelo menos um autor a um génio. Por isso digo que é preciso habituarmo-nos a ele e à sua escrita. Só depois de nos habituarmos o entenderemos nas entranhas, sem que seja necessária uma explicação à crónica X. Está ali. Não é preciso explicá-la porque a crónica é a própria explicação.

Inúmeros são os temas presentes nas suas crónicas, desde pequenas histórias da sua vida ao mais pequeno pormenor aparentemente desinteressante e desprovido de matéria para escrever. Mas Lobo Antunes escreve sobre tudo e muitas vezes o tema da crónica é mesmo a falta de assunto para escrever uma crónica (o que também acontece com muitos outros cronistas, se estiverem dentro do assunto), porque, não sei se já experienciaram fazê-lo, escrever uma crónica pode chegar a ser doloroso ao mesmo tempo que nos dá um prazer imenso. Sentir as palavras a descerem para o papel é de um êxtase inexplicável, mas depois há os prazos, os limites mínimos e máximos de caracteres ou palavras que são impostos por quem publica.

A crónica que me ficou na memória, não a que mais gostei, foi exactamente sobre uma crónica que insistia em fugir-lhe da mira, como se quisesse caçá-la e isso fosse a tarefa árdua de esperar pelo momento certo até deitar-lhe as mãos em cima (Crónica para quem aprecia histórias de caçadas).

Outras, imensas, falam-nos de um nada tão tudo. Aquelas coisas que nem lembramos ouvir, que passam despercebidas, que não imaginaríamos tema de nenhum texto alguma vez escrito quanto mais de uma crónica, estão aqui. As banalidades que estão de tal maneira entranhadas na nossa vida que as julgamos desimportantes quando é o facto de estarem tão entranhadas que as torna  preciosas.

Foi preciso ler uma boa dezena de crónicas de Lobo Antunes para gostar dele, para percebê-lo, para entendê-lo com o sangue. 

Este livro de crónicas de António Lobo Antunes é uma selecção de muitas que foram publicadas entre 2002 e 2004.

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