BIBLIOTECA - O Amigo Comum, de Charles Dickens



Ao ler O Amigo Comum, de Charles Dickens, senti a necessidade de tirar apontamentos à medida que se apresentavam as personagens. A meio do livro desisti de fazê-lo por já estar encarrilhada na história e perceber quais seriam as personagens de facto importantes no enredo. Só para perceberem a dimensão da história, há mais de 60 personagens apresentadas com uma descrição detalhada, só neste livro. Muitos figurantes portanto, em que nada contribuem para o desenvolvimento da acção propriamente dita, mas existem e estão lá para nós, apenas para tornar a história mais próxima da realidade, mais verosímil. Tal como é a nossa vida, cheia de dezenas de conhecidos e colegas, mas só umas unidades de amigos e familiares que contamos pelos dedos das mãos, assim é esta obra.

Este é um romance vitoriano de Charles Dickens que é, certamente, uma obra-prima. Para além da crítica social bem presente, Dickens narra certos acontecimentos com uma fina ironia, o que acaba por conferir um carácter ridículo a certos tipos de comportamento e pensamentos da época, mas que, infelizmente ainda conseguem ser detectados nos dias de hoje. A sobrevalorização do dinheiro e ascensão social tornavam a sociedade de então supérflua e fútil, com um objectivo único. Ter mais e ser mais. Falam deste romance muitas vezes dizendo «dinheiro, dinheiro, dinheiro e mais dinheiro», porque, no fundo, todas as teias que interligam os sucessivos acontecimentos giram em torno do dinheiro.

Apresento-vos então apenas algumas das personagens mais importantes resumindo um pouco, sem ser spoiler. Tudo está ligado ao assassínio de John Harmon, um homem cuja fortuna, a ser herdada do pai, será entregue aos Boffin, um casal que trabalhou a vida inteira. A partir daqui visualizam-se comportamentos extravagantes e interesseiros por parte de personagens parasitas que, estando ou não na miséria, fazem de tudo para se aproximar do casal mais rico das redondezas. Desde Wegg ao casal Lammle, há muitos que tentam chegar as mãos ao dinheiro da fortuna herdada. Lizzie e Charlie Hexam são dois irmãos que passam por dificuldades várias, desde o início do livro e acabam por tornar-se personagens importantes no desenrolar da acção. Lightwood e Wrayburn, dois cavalheiros de valor, advogados de Harmon, presentes nos jantares das gentes da alta sociedade - onde são apresentados os seus vícios, o Podsnapismo - parecem ser os únicos que ainda possuem uma consciência livre das gabarolices e pretensões dos corruptos que os rodeiam. Riderhood e Headstone, dois homens com um interior negro e revoltado que fazem de tudo para conseguir o que querem, um pelo dinheiro e o outro pela paixão. E tantos, tantos outros que se apresentam como caricaturas de uma determinada característica.

Se lerem (ou se já leram) este livro, digam-me se gostaram e se não detectaram semelhanças entre Bradley Headstone deste romance e a personagem principal do romance de Dostoiévski, Crime e Castigo


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