Todos ali a enganar o engano. A dizerem adeus aos que sabiam não voltar, com um sorriso, disfarçando a angústia das entranhas. Cada bomba lançada deixava a morte atrás de si. Cada som aterrador a romper a terra com a força do vento era como menos um dia de vida em cada um deles. Era menos uma esperança, menos um sorriso, menos fé, menos vida a cada dia que passava. Todo aquele pesadelo tornava a fome um mal menor.
Chegaram dias em que o sol era um estranho. Chegaram noites em que o silêncio era uma bênção. E como o hábito faz o monge não tardou que aquele ar, respirado por toda a cidade vezes sem conta, saturado de medos e desabafos, se tornasse num veneno cujo antídoto se encontrava junto do fim da guerra. Junto ao horizonte, lá longe, quase, quase inalcançável.
Dia 1 de Janeiro de 2015 assisti ao pôr-do-sol.
Já não o fazia há imenso tempo e começar o ano assim fez-me ter calma!
Falei com uma pessoa muito importante para mim que já cá não está há algum tempo e que me faz imensa falta... Pode parecer estúpido, mas faço-o porque a minha avó foi muito importante para mim e simplesmente não consigo acreditar (mesmo depois de tanto tempo) que ela já não está Aqui, Agora.
Desabafei com ela e pedi-lhe para que as coisas más morressem!
Subi ao terraço da casa do meu padrinho e fiquei ali, sozinha, no silêncio, no frio, com os cabelos ondulados a dançar com o vento triste. Olhei para o mar, para o horizonte, para o céu. Havia tons de lilás a molharem-se na água salgada, como se o céu fosse uma aguarela. O sol estava cor-de-rosa. Ouvi o ar e o mar e as nuvens e o sol. Senti, falei, chorei, sorri. Tive Saudade. Tenho Saudade. Sinto-me perdida. Quando começo a chorar, não consigo parar.