Há vários tipos de pessoas - aquelas que não merecem as lágrimas que derramo e aquelas a quem devo a minha felicidade, a minha vida.
Sentei-me numas escadas de jardim, ouvi e senti as gotas grossa e pesadas da chuva no meu rosto. Era Inverno! Chovia. E eu estava sentada a fazer nada. Sozinha. A fazer nada. Admirava os pingos da chuva como uma criança admira as mil luzinhas da árvore de Natal - radiante com a sua beleza, com a autenticidade desses pontinhos que caíam sobre a minha cabeça pesada, sobre o meu cabelo castanho, encaracolado e progressivamente mais molhado, sem me questionar onde nascera tal fonte que, suspensa por cima do meu corpo, se matava aos poucos, sem fim, sem tempo.
Os meus olhos choviam também. Pérolas gastas pelo tempo, tornavam-se cinzentas de monotonia. A luz efémera da minha alma consumia-se a um passo superior à velocidade que eu outrora lhe permitira.
A minha força de vontade, o meu alento, que haviam estado em baixo, foram levantados por um dos mais preciosos anjinhos da guarda. (Infelizmente) Voltaram a cair, mas desta vez, desta derradeira vez, bateu mesmo no fundo e já não há nada que alguém possa fazer. Chovia.
Fiz coisas que não se devem fazer. Tentei acabar com tudo. Tentei que tudo acabasse ali, naquele momento em que se decide o que fazer com a vida/morte.
E as lágrimas que não consegui derramar afogaram-me em mágoas desconhecidas.
As lágrimas que não consegui derramar, mataram aqueles que não as mereciam.